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Diana Thedim
— Bailarina e coreógrafa —
Mi abuelo me decía, para salir a bailar por “soleá”( estilo flamenco) , que me imaginara un puente de madera viejo, hay que pisarlo con firmeza, para que no se tambalee, pero no con más fuerza de la cuenta para que no se rompa y cayera al precipicio, ¿Qué precipicio, le pregunté?, el de la soleá, ¿te parece poco?
Juan Manuel Fernandez Montoya, Farruquito.
Uma arte que atravessaria fronteiras e continentes para se afirmar, em 2002, como uma manifestação artística de caráter universal, declarada então como Patrimonio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco.
Tão distante então do seio das familias que a viram nascer, a arte flamenca ou o flamenco como manifestação artística, percorre mundo como um viajante, apaixonando públicos, conquistando intérpretes, derrubando formas, criando escolas. Uma arte que se quer “pura” para conservar a sua essência, mas que paradoxalmente se encontra em continua transformação de acordo com a forma de sentir de cada intérprete, de cada artista, de cada mestre, de cada flamenco.Não é folclore. Não é arte popular no sentido de que não é uma manifestação regional , como o podem ser as “sevilhanas”, canto e dança populares que obedecem a quadraturas e coreografias especificas. Nem se identifica com a rumba flamenca que apareceria mais tarde na região da Catalunha, mais concretamente em Barcelona, e que grupos ou intérpretes internacionais, mais ou menos “aflamencados”, ajudariam a conquistar para si dando-lhe uma notoriedade mundial efetivamente de caráter popular.
No Coliseu do Porto, mais do que dançar, mostrou e demonstrou porque é apelidado de Mestre pelos seus companheiros de profissão. No seu olhar lê-se Andaluzia e a história de um povo. Lê-se e sentem-se os longínquos laços de sangue que o criaram e lhe deram voz. Os dois séculos da história desta arte estão na forma como quase imperceptivelmente o seu corpo se contorce enquanto o seu domínio técnico elabora um complicado jogo de sons através do sapateado que, mais do que música, evoca vozes… São lamentos mas também rebeldia e decisão. Força abrupta. Imprevisível mesmo para os músicos que o acompanham neste espetáculo. Na sua dança, no seu corpo, cada músculo cria e aguenta uma tensão levada até ao limite para irromper em pura energia. E um sorriso de quem é consciente do que provoca.
Agradecem-se os músicos de exceção que o acompanharam todos eles únicos na sua forma e saber. E no final o público de pé rendeu-se e aplaudiu vivamente o Mestre flamenco sevilhano. Porque na história da arte flamenca, muitos serão os artistas, alguns criando nos nossos dias escolas de um flamenco contemporâneo que roça a genialidade como é o caso do bailarino Israel Galván, artista que o público portuense pode ver e aplaudir no Teatro Rivoli em julho de 2017. Mas muito poucos podem reivindicar para si a escola do flamenco de sangue, de genes, de condição ancestral, de casta e raíz, de família. Sem artifícios, sem mais cenário que a própria memória de sangue e a sua história de pontes e rios.