3 DANÇAS DE IDEIAS ou como conversar sobre dança
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2018

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3 Danças de Ideias
3 DANÇAS DE IDEIAS ou como conversar sobre dança

Sonia Sobral

— Gestora cultural no Brasil —



Uma das realizações da terceira edição do Festival DDD Dias da Dança, gerido pelo Teatro Munipal do Porto, propôs um encontro entre públicos interessados em falar e pensar coletivamente sobre danças, o 3 danças de ideias.

A volta de uma mesa de brunch aconteceram três encontros descontraídos sobre a experiência dos espetáculos vistos na semana que se encerrava. Cada um deles apoiado sobre um conceito-chave.

Fui responsável por mediar o primeiro deles. O grupo de pessoas interessadas era, como se esperava, heterogêneo. Contudo, todos os participantes eram curiosos, condição primeira de um espectador e de um diálogo. Tínhamos então as condições necessárias para um bom encontro.

Em lugar de comentar diretamente os três espetáculos preferi ouvir-dialogar, confiante que sou no momento (que carrega uma situação única dada por aquelas pessoas, espaço e tempo). *

Iniciei propondo perguntas. Perguntas devem olhar para a natureza do que se interroga, propõem questões, podem ser investigativas, falsas, vagas ou complexas, perguntas podem abrir o campo da questão interrogada ou simplesmente indagar.

O que você espera de uma dança? Como olhar a dança? O que é próprio desta linguagem?

As diversas respostas e novas perguntas desenharam um terreno comum. Acima de tudo ensinaram algo sobre a dança, posto que essa não existe sem a recepção de quem a vê, ela só se completa dialogicamente. Assim, as respostas fizeram mover a própria dança.

Falamos sobre o quanto geramos expectativas próprias e as imputamos no que estamos assistindo e no quanto o excesso de opinião nos tira da experiência. As pessoas trouxeram questões que estavam nos seus campos de reflexão como o corpo da yoga e o corpo da dança, questões ambientais, o endurecimento que a institucionalização causa, articulações com livros que estavam lendo e algumas vezes relacionamos essas reflexões com os espetáculos vistos, garantindo que não nos perdêssemos em divagações.

O público de arte contemporânea, de forma geral, quer ser desviado do seus quadros cotidianos de representação, quer indagar e ser indagado, não gosta de ser passivo. Éramos esse público. E assim sendo, sabíamos que não sairíamos com os quesitos das provas resolvidos. Sabíamos que duvidar faz parte da observação, da criação e da construção de sentidos.

Não creio que todas as existências precisem de função à priori, mas da vigência de coisas que se descobrem a partir e com os sentidos daqueles que os fazem. Aparentemente meus colegas também.

Há acontecimentos ou fenômenos que necessitam de fundamentação e há os que necessitam apenas ser instaurados. Como um debate, por exemplo.

Assim fomos confiantemente conduzidos pelas perguntas que fazíamos entre nós e que não seriam respondidas conclusivamente, mas provisoriamente.

Um fio qualquer nos manteve imantados. Um encontro previsto para 2 horas durou 4 e eu não conseguiria resumir ou consolidar, nesse texto, tudo que falamos. Só sei que falamos com liberdade, respeito e inteligência. Que saímos maiores de dúvidas, da vontade de conversar coletivamente, de ver mais espetáculos, de pensar juntos, de não sermos literais, de abrir pensamentos e sentidos. De inventar e reinventarmo-nos.

Usamos a operação artística como dinâmica de um encontro sobre ela. O que ali aconteceu foi a prática mesma da criação.

Essa prática da criação artística que carrega a ruptura com qualquer sentido ou forma anterior àquela experiência. Sua força política reside na possibilidade de produzir novos agenciamentos entre sujeitos, contextos, tempos, etc. e, sua força de invenção está em crer no que está latente, no que ainda está velado e justamente aí se forjar.

Assim como a arte que desterritorializa o sistema de opiniões dominantes, criamos sentidos sobre os trabalhos assistidos aumentando, desse modo, sua ação no mundo.

Foi um bom encontro.

3 DANÇAS DE IDEIAS ou como conversar sobre dança
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