JUMP TO DA BONE
Wed

 

16

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05

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2018

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Não é uma crítica
JUMP TO DA BONE

Constança Babo

— crítica de arte e fotógrafa —

Onde se encontram e de onde provêm as novas formas da arte contemporânea? Onde reside a autêntica potência da criação artística de hoje?



A obra não tem de nascer na esfera da arte, pode vir de outro lugar. É através da ação de quem produz e da inserção no sistema que qualquer objecto é legitimado, integrando, assim, o universo artístico. E, no que diz respeito à génese da criação, esta poderá situar-se, cada vez mais, numa dinâmica exterior à da grande cultura mais visível e reconhecida que preenche as cidades e os ecrãs. A possibilidade de criar algo novo, diferente pode, pois, encontrar-se no espaço que ainda não foi contaminado e condicionado pela massificação, pela reprodutibilidade e pelo capitalismo que dominam o presente. O que ainda está por ver, conhecer e explorar, habita na cultura underground, na rua, no bairro, na periferia, no submundo, no outro. Este tem a sua história, paralela, o seu oldschool com as respetivas regras e formas próprias de se mover, os seus tricks.

Será, então, na atitude mais genuína e despretensiosa, na ação, no movimento, no manifesto, no grito, na rua e na juventude que flui, pulsa e vibra o novo. É no espaço que não foi, ainda, absorvido pelo tempo em que habita e inserido no mainstream, que não foi instruído e moldado pela academia e pelo institucional, que sobrevive e se move a liberdade criativa. Aí, mantem-se a possibilidade de conceber, criar, produzir, desenvolver, enfim, fazer; aí, no cenário da cultura urbana contemporânea.



A arte é a vida, é a voz, é o jumpstyle. É o salto que o corpo dá e que se traduz em mais do que um movimento físico, mais do que uma ação corpórea. É o que materializa e comporta sentidos, expressões, culturas. É a linguagem que empregam onze jovens, dez homens e uma mulher que, sendo de origens, países e núcleos distintos, partilham uns mesmos códigos através dos quais se relacionam, comunicam e cruzam, não só entre si mas também com quem os vê e a quem se apresentam.

Como colectivo ou individualmente, gerando o seu próprio som ou movendo-se a par da batida intensa da música hardcore, como uma comunidade preparada para combater numa battle, ou isoladamente, distribuem-se no espaço e enfrentam os outros, o mundo. Revelam-se através de skills atléticas, com um passo tão sólido e desestabilizador quanto leve e harmonioso. O grupo (LA)HORDE traz algo arrebatador e indiscutivelmente marcante que preencheu o palco do Teatro Municipal Rivoli com uma energia incalculável, com um eco e um alcance que se prolongaram pós-espetáculo.



Na era da tecnologia, da internet e das redes, a arte é cada vez menos física e material, mais tecnológica e digital, afastando-se do real à medida que, aos poucos, se instala e desenvolve na esfera virtual. Ora, tendo sido, precisamente, as ferramentas do online que possibilitaram o contacto destes onze jovens entre si, eles próprios propõem-se a questionar os novos média e o que resulta como uma dança pós-internet. Contudo, nesta performance verifica-se que, independentemente das correntes e materiais que se afirmam na atualidade, o essencial e o mais valioso permanece, ainda, na fisicalidade, no corpo, no homem, no impacto e contacto dos pés e das mãos com o chão e na elevação no ar, que nenhum médium tecnológico substitui.

Pode, ainda, compreender-se como cada indivíduo deste projeto, a partir de uma impactante obra de arte móvel e ativa, se recria e transforma, tornando visível aos olhos do público a sua existência, o seu corpo e o seu lugar no mundo. É numa ocasião destas que se assiste ao salto, ao jump, determinado e corajoso para o que será o próximo momento da arte contemporânea.

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