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Rebecca Moradalizadeh
— Artista Plástica —
não há território sem um vetor de saída do território e não há saída do território, ou seja, desterritorialização, sem, ao mesmo tempo, um esforço para se reterritorializar em outra parte. Tudo isso acontece nos animais. É isso que me fascina, todo o domínio dos signos. Os animais emitem signos, não param de emitir signos, produzem signos no duplo sentido: reagem a signos [...] E eles produzem signos
Deleuze, Gilles*
Uma linha de corpos que lentamente imerge num solo neutro, obscuro, desconhecido.
Um corpo estranho ao centro.
Um manto cristalino e cintilante.
Um som denso, atmosférico e profundo.
Fecham-se as portadas.
Enquanto a visão se adapta à obscuridade, salienta-se um corpo na penumbra.
O olhar segue um foco, um farol.
Dois membros circundam em torno de si mesmo.
Criam-se marcas arrastadas na matéria terrena.
Uma névoa.
A pouco e pouco, a luz move-se, procura um espaço dentro do espaço, um corpo dentro de um corpo.
Observa-se.
Conhecer o desconhecido manifestado por uma respiração ofegante. A surpresa.
O corpo conecta-se ao espaço ambíguo.
Desagrega-se um outro corpo do peito.
Manipulado de diversas formas.
Regressa ao seu interior e é expelido novamente.
A linha que outrora os uniu é quebrada e deixada naquele ponto.
O corpo (vivo) nómada rasteja e confronta um outro corpo (terreno).
Juntos metamorfoseiam-se num só.
A adaptação dos dois resulta num jogo, numa luta intermitente de territórios, de corpos.
Movimentos bruscos deambulatórios.
Impulsos rítmicos e lumínicos apoderam-se do espaço.
O sufoco.
O corpo abdica do lugar. Desfragmenta-se.
Liberta-se.
Transfigura-se num ser animal.
Com gestos dominantes procura uma outra superfície.
A largada de um é a posse de outro.
Uma outra terra.
Que logo é desmaterializada, derrocada.
Contendo em si as marcas do corpo dominante.
O corpo inquieto ritualiza-se:
Lambe-se.
Esfrega-se.
Incorpora o lugar deixando vestígios no seu próprio corpo.
Lança gritos jubilosos.
Luzes cintilantes, intermitentes, compulsivas.
É a procura.
É o encontro.
É o domínio.
É a ausência.
Territorialização. Desterritorialização. Reterritorialização
Territorialização. Desterritorialização. Reterritorialização
Territorialização. Desterritorialização. Reterritorialização
(…)
Entretanto.
Corpos que se transformam noutros corpos.
Bolhas azuis expelidas pelo corpo.
Linha de cor que submerge e percorre o corpo.
Desagua dentro do corpo.
Alimenta.
Delimitam-se fronteiras.
Escavam-se barreiras.
Corpo estático entre o terreno e o submerso.
Levita-se um manto vermelho.
Embrulha-se num cenário caótico.
Ao longe um sussurro.
Uma ramificação animal no topo do corpo.
Um novo trajeto.
Um novo con(fim).
Su8marino:
É uma reflexão sobre as infinitas possibilidades de territorialização/desterritorialização/reterritorialização.
É um limbo. Uma fuga. É um entre-linhas.
É uma construção de rituais de passagem, procura, encontro e confronto em relação ao desconhecido.
É um cenário de acumulações de signos onde o corpo vagueia pelo tempo e pelo espaço originando uma marca cartográfica oriundo da manipulação, apropriação e desapropriação de vários territórios.
*DELEUZE, G. L’Abecedaire de Gilles Deleuze, entrevista concedida à Claire PARNET realizada em 1988 e transmitida em série televisiva a partir de novembro de 1995, pela TV-ARTE, Paris, videocassete.